15 de novembro de 2024
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Artigo por: José Hiran da Silva Gallo
A experiência profissional do autor como médico que trabalha e convive diuturnamente com problemas relacionados ao envelhecimento e à morte é o principal motivo que trouxe à tona a emblemática questão dos cuidados paliativos no final da vida.
Consonante a isso, com o avançar da idade, as perdas se acumulam. Os amigos, parentes e conhecidos envelhecem e morrem porque esta é a história natural da vida de todos os seres humanos que, mais dia, menos dia, irão morrer em decorrência da idade ou de forma súbita e precocemente, o que não é nada desejável.
O que se espera é que a morte chegue ao entardecer, no período da velhice. No Brasil ocorre um fenômeno de envelhecimento populacional acelerado aliado a uma diminuição significativa das taxas de fecundidade.
A análise sumária dos dados populacionais apresenta dados notavelmente preocupantes relacionados ao envelhecimento populacional, o que acarretará consequências e problemas
decorrentes deste fenômeno que implica em abordagens às novas necessidades explicitadas pela pessoa idosa, como limitação da autonomia, mobilidade dificultada, além do acesso a informações, serviços, segurança e saúde preventiva.
De uma forma resumida, pode-se afirmar que o rápido envelhecimento da população brasileira irá se refletir em uma inversão na pirâmide populacional, trazendo como consequência a necessidade de programas de cuidados com os idosos e com as novas e variadas necessidades típicas e próprias desse novo contingente populacional,
que possui um grande potencial de adoecimento, característica própria e inseparada de todos aqueles que se aproximam do final da vida.
Ainda não há no Brasil uma política nacional de cuidados paliativos, e urge a necessidade de assistir a população idosa com toda a gama de problemas que envolvem o envelhecimento.
Os idosos com doenças terminais são tratados de forma improvisada na rede de saúde pública, que ainda não está preparada para receber esses pacientes que se aproximam do final da vida. Não é incomum nos depararmos com idosos em assistência ventilatória
tratados em ambientes impróprios, como salas de pronto atendimento que não são destinadas ou equipadas para tal finalidade.
Da mesma forma, tem chamado a atenção da classe médica do setor privado que os portadores de doenças crônicas e irreversíveis sejam acompanhados em UTIs destinadas para pacientes recuperáveis, resgatáveis e que, em tese, portam alguma possibilidade de recuperação. No entanto, manter estes pacientes internados envolve questões financeiras muito lucrativas para os empresários e proprietários de hospitais.
O termo cuidado paliativo ainda é um neologismo no Brasil. Somente nos últimos tempos é que se tem divulgado nos fóruns pertinentes sobre o tema o direito e a autonomia que cada pessoa tem para escolher a forma e o lugar onde quer morrer.
Quando se trata de cuidados paliativos, a participação do Estado brasileiro é insignificante, e as responsabilidades, muito reduzidas, visto que os cuidados com os idosos, terminais ou não, ficam, na maioria das vezes, sob a responsabilidade das famílias. Não é incomum a carência de recursos de ordem financeira que permitam a contratação de cuidadores especializados que atendam no ambiente familiar. Dessa forma, os cuidados aos idosos geralmente são realizados por um membro da família e, em sua maioria, a uma mulher que reside no mesmo domicílio ou próximo do idoso.
É paradigmático que todos nós, algum dia, necessitaremos cuidar ou seremos cuidados por outro, e isso constitui uma questão central na vida de todas as pessoas, e todas as ferramentas necessárias devem ser utilizadas para viabilizar a implantação de serviços de cuidados paliativos nas comunidades brasileiras em geral.
O envelhecimento populacional traz como consequência imediata uma inevitável preocupação de todas as pessoas que devem admitir que, cedo ou tarde, estarão diante
de uma situação na qual deverão cuidar e que inapelavelmente deverão receber cuidados relacionados ao processo natural de envelhecer.
Existe um momento no qual não existe mais a possibilidade de cura para aquele ser humano
acometido de fragilidades e adoecimentos decorrentes do processo de envelhecimento, que culminará na inexorável morte.
Procedimentos diagnósticos e terapêuticos aumentam o sofrimento e não mais prolongam a sobrevida dessas pessoas e, assim, os cuidados devem ser destinados a melhorar a qualidade de vida, em especial ao grupo de pacientes portadores de doenças crônicas, como as doenças oncológicas, as síndromes demenciais e sequelas de neuropatias em geral, todas de curso irreversível.
É preciso que se enfrente a infalibilidade da morte com a preservação da dignidade do paciente e que se proporcione a ele a oportunidade de morrer em paz, preferencialmente na companhia da família, dos amigos e no ambiente familiar.
Sobre o autor:
José Hiran da Silva Gallo é Doutor em bioética e diretor-tesoureiro do Conselho Federal de Medicina
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