Antimicrobianos: usar ou não em pacientes em fim de vida?

Lives e Webnars ANCP
calendar
9 de junho de 2023

Antimicrobianos: usar ou não em pacientes em fim de vida?

Clique e acesse a publicação

Uma questão é frequente quando um paciente com quadro clínico irreversível e em fim de vida dá entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI): continuar com o uso de drogas antimicrobianas ou não? A médica intensivista e pós-graduada em Cuidados Paliativos, Maria Claudia Hahn Ferrucio, realizou um trabalho acerca do tema e o apresentou durante o IX Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos, em Curitiba (PR).

Também mestranda em Bioética, Maria Claudia relata que esse debate é comum em sua área. “A discussão de utilizar antimicrobianos em fim de vida faz parte da rotina do médico intensivista. É preciso analisar os aspectos bioéticos a partir da percepção desses profissionais médicos, já que não existe uma diretriz clara na literatura sobre a utilização de antimicrobianos em cuidados de fim de vida”, destaca a médica, que enfatiza um ponto importante. “Não tendo uma certeza clínica dos benefícios ou não dessas medicações nessa população de pacientes. As tomadas de decisões acabam sendo respaldadas por valores e experiências de cada médico. Os antimicrobianos, apesar de terem um potencial e ao mesmo tempo controverso benefício de controle de sintomas e aumento de sobrevida, são drogas que têm efeitos colaterais, precisam de alguma via para administração e exames laboratoriais de controle, e tudo isso pode trazer mais sintomas e sofrimento para o paciente”.

Maria Claudia pontua aspectos particulares desse tipo de droga que são analisadas para a tomada de decisão. “Geralmente, essas são medicações de elevado custo que, se usadas indiscriminadamente, corroboram para resistência antimicrobiana, dificultando cada vez mais o tratamento das infecções (inclusive de pacientes que não estão em fim de vida), contaminando o meio ambiente e trazendo repercussões negativas para as gerações futuras”, ressalta a intensivista.

Durante a elaboração da pesquisa que colaborou com a base do trabalho, médicos que se deparam com essas situações dizem que até mesmo terapias do suporte avançado de vida (SAV) são avaliadas. “Nas entrevistas, procurou-se analisar o que motiva os profissionais intensivistas a prescreverem ou não antimicrobianos em fim de vida. A grande maioria dos entrevistados (90%) utilizam a medicação se perceberem benefício em controle de sintomas, mas, na fase de processo ativo de morte ou choque séptico com múltiplas disfunções, os intensivistas fazem adequação terapêutica e, na maioria das vezes, suspendem o uso da medicação junto de outras terapias de suporte avançado de vida”, conta Maria Claudia.

A médica intensivista não deixa de levantar importantes questionamentos que fazem parte do universo dos profissionais das UTIs. “Na indicação de prescrever ou não tais medicações, surgem conflitos como a intenção de uma beneficência (fazer o bem para o paciente) versus uma não-maleficência (o ônus da terapia), e a preservação da autonomia do paciente e família versus um paternalismo, mesmo que fraco, por parte dos intensivistas. Como equilibrar todas as decisões de forma a preservar as preferências e objetivos de cuidados do paciente, sem ter uma obstinação terapêutica e sem interromper precocemente as medidas de tratamento?”, indaga a profissional.

Maria Claudia ressalta que seu trabalho visa auxiliar a tomada de decisão e incentivar mais pesquisas acerca da eficiência dos antimicrobianos a pacientes em fim de vida. “A reflexão a partir desse tema é para que se busque melhores estratégias de tomada de decisão no quesito antimicrobianos em fim de vida, com os médicos tendo em sua formação um maior aprendizado de como utilizar dos recursos bioéticos para as decisões clínicas. Além disso, são necessários mais estudos que comprovem eficácia dessas drogas ou não, para que seu uso seja mais racional e com benefício específico, colaborando para alocação de recursos de forma justa, assim como evitando um maior prejuízo ao ecossistema pelo aumento da resistência antimicrobiana”. A médica finaliza: “prescrever antimicrobianos em fim de vida é uma tomada de decisão que deve ter responsabilidade individual e coletiva, perpassando dos aspectos clínicos para a saúde pública e para a consciência global”.

Este trabalho está entre os 3 premiados na categoria “Controle de Sintomas e Qualidade de Vida em Cuidados Paliativos“, no IX Congresso Brasileiro de Cuidados Paliativos. Assim como os demais apresentados tem seu resumo publicado no suplemento da revista Latin American Journal of Palliative Care, para acessar basta clicar aqui.


Gostou? Compartilhe!

Fique por dentro

CONFIRA OUTRAS NOTÍCIAS


RECEBA TODAS AS
NOSSAS ATUALIZAÇÕES

Deixe o seu email e receba todas as novidades, notícias, fique por dentro dos benefícios e muito mais!

bg