15 de novembro de 2024
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Por Carla Dórea Bartz
O enfermeiro Manuel Luís Vila Capelas, presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP), conversou com a equipe de comunicação da ANCP e falou um pouco sobre a sua trajetória como paliativista, o atual estágio dos Cuidados Paliativos em Portugal e também sobre a importância da parceria entre as duas entidades.
ANCP – Como você se interessou por Cuidados Paliativos?
Manuel Capelas – Sou enfermeiro e, durante toda a minha vida profissional, trabalhei em Unidades de Queimados e Serviços de Hemodiálise. Tanto em num como noutro, a grande maioria dos doentes eram essencialmente doentes paliativos. Surgiu assim o meu interesse pela área, que aumentou consideravelmente quando frequentei o mestrado em Cuidados Paliativos. Desde então, comecei a intervir mais ativamente em prol dos Cuidados Paliativos, integrando os corpos sociais da APCP. Mudei para a vida académica, onde tenho promovido a formação básica e pós-graduada em Cuidados Paliativos, assim como a pesquisa. Neste momento, faço o meu doutoramento em Ciências da Saúde – Cuidados Paliativos, sobre Indicadores de Qualidade para os Serviços de Cuidados Paliativos em Portugal. Coordeno também o Curso de Mestrado em Cuidados Paliativos da Universidade Católica Portuguesa, assim como participo em diversos cursos em instituições de ensino superior. Interesso-me, sobretudo, e investigo na área da organização de serviços, estimativa de necessidade e melhoria da qualidade. Desde dezembro de 2011, sou o presidente da APCP, onde tento ser mais do que presidente. Tento funcionar como motor e coordenador de uma vasta e espetacular equipe, com pessoas que dispuseram de momentos das suas vidas para trabalharmos em conjunto pelo desenvolvimento desta importante área.
ANCP – Como surgiu a ideia do I Congresso Lusófono de Cuidados Paliativos?
MC – Já vem de algum tempo, por conversas que mantemos com a Dr.ª Maria Goretti Maciel, mas que avançou quando do Congresso da Associação Europeia de Cuidados Paliativos (EAPC), que decorreu em Lisboa em maio de 2011. Nesse momento, todos consideramos a necessidade de avançar com este desafio.
ANCP – Quais são os objetivos do I Congresso Lusófono?
MC – O objetivo maior é a divulgação científica, acompanhado pela partilha de experiências com povos e estruturas de saúde com raízes culturais semelhantes, embora com realidades muito diferentes no desenvolvimento dos seus programas de Cuidados Paliativos, além de maior aproximação entre os profissionais desta área.
ANCP – Quais são suas expectativas?
MC – Que surjam projetos comuns, seja de investigação, seja de intercâmbio formativos, em especial com os países de África, onde a nossa e vossa ajuda poderá ser fundamental.
ANCP – Na sua opinião, qual a importância da existência de uma rede de entidades lusófonas focadas em Cuidados Paliativos?
MC – Pela partilha da língua e raízes culturais poderem ser polos dinamizadores de divulgação e pesquisa científica. Assim, com o compartilhamento de experiências, poderem ser uma voz mais forte nos seus países, do que cada um por si, atuando individualmente.
ANCP – Em especial, como avalia a importância do acordo entre a APCP e a ANCP?
MC – Fundamental, pois todas as associações, na minha perspectiva, deveriam estar unidas e não funcionarem como casulos. Aqui procuramos que, ao avançar este projeto de I Congresso Lusófono, pudesse existir algo mais forte que unisse estas duas associações, e que essa união fosse partilhada por ambos os associados. Tem todo o sentido caminharmos lado a lado, quando o nosso objetivo comum é a melhoria dos cuidados e da qualidade de vida do doente em fim-de-vida.
ANCP – Como está a situação dos Cuidados Paliativos em Portugal?
MC – Está em desenvolvimento, numa fase crucial de potencial mudança, onde se está a tentar desenvolver uma verdadeira rede nacional de Cuidados Paliativos que dê efetiva resposta aos doentes que destes cuidados necessitam. Estamos também na fase crucial do desenvolvimento das competências/especializações médicas e de enfermagem em Cuidados Paliativos. Por outro lado, exige-se nesta fase uma maior responsabilização dos prestadores e políticos para a disponibilização de cuidados de qualidade.
ANCP – Existe apoio do governo? Há bons serviços que atendem a população?
MC – Sim, existe apoio do governo, embora nestes tempos de crise, não seja fácil. Existem muitos bons serviços mas também existem outros que deixam muito a desejar. Não existe uma equidade na acessibilidade dos doentes a estes serviços, pois alguns distritos não têm um único recurso de Cuidados Paliativos.
ANCP – Como é a formação do paliativista português?
MC – Muito variável. Temos uns que fizeram formação avançada e especializada e até com estágio em unidades de referência, como temos outros que exercem funções sem qualquer formação especifica nem estágio.
ANCP – Há alguma forma de certificação ou acreditação? MC – Ainda não.
ANCP – Qual o papel da APCP nos Cuidados Paliativos em Portugal?
MC – Ser um polo dinamizador dos Cuidados Paliativos no nosso país e um parceiro privilegiado no trabalho com as autoridades responsáveis pelo desenvolvimento destes serviços; trabalhar em sinergia com organizações que visem o desenvolvimento dos Cuidados Paliativos e áreas afins em Portugal e no estrangeiro; contribuir para a credibilidade e garantia da qualidade das estruturas que prestam e/ou venham a prestar cuidados nesta área; apoiar os profissionais de saúde que queiram se dedicar a esta área da saúde e fortalecer a investigação específica a desenvolver, que ainda é muito isolada, equipe por equipe.. Nossas metas são a formação adequada dos profissionais, a qualidade dos cuidados e a equidade no acesso aos serviços de Cuidados Paliativos em nosso país.
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