Atuação de especialistas em Dor em Cuidados Paliativos e sua importância

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22 de fevereiro de 2023

Atuação de especialistas em Dor em Cuidados Paliativos e sua importância

A dor não negocia com pensamentos positivos. A dor ameaça e fere a cada momento, com a intensidade indesejada de um pensamento ruim. Pacientes em Cuidados Paliativos que enfrentam quadros clínicos onde a dor se faz presente – seja pela doença ou seu tratamento – precisam de profissionais experientes e com conhecimentos apurados sobre os mais diversos tipos de dores existentes. Por isso, dentro das equipes multiprofissionais de Cuidados Paliativos, os especialistas que optam pela área de atuação em dor são tão importantes – por mais que, infelizmente, ainda não seja tão simples de serem encontrados.

Altas expectativas e preconceito ainda machucam

Marcia Morete, enfermeira, doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), especialista em Dor e Cuidados Paliativos, e membro do Comitê de Dor da ANCP

O que existe de mais urgente na administração da dor em um paciente que esteja sob Cuidados Paliativos é oferecer a ele o maior conforto possível. A enfermeira e doutora pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Marcia Morete, é especialista em Dor e Cuidados Paliativos, e exemplifica isso. “Na maioria das vezes, por ser a dor do paciente a principal queixa, os familiares e cuidadores criam expectativas altas em relação ao alívio da dor. Geralmente o manejo da dor pode acontecer, porém, nosso foco é deixar essa pessoa mais confortável e com o menor sofrimento possível”, diz Marcia. Ela afirma que as expectativas do paciente e seus familiares/cuidadores é apenas um dos obstáculos a serem superados por especialistas em dor que atuam com Cuidados Paliativos. “Os maiores desafios que nos deparamos no dia a dia é o entendimento, clareza e aceitação da condição do paciente, assim como do familiar. Além disso nos deparamos muitas vezes com a subvalorização dos profissionais da equipe de saúde, pois infelizmente, esses profissionais têm conhecimento rasos na sua formação, repercutindo assim na sua maneira de lidar com pacientes nessas condições.

As particularidades de cada caso explicam um pouco mais essas dificuldades encontradas pelos especialistas. João Batista Garcia é médico, professor e especialista em Cuidados Paliativos e Dor pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e ressalta que até mesmo o preconceito com alguns analgésicos pode criar entraves entre o profissional e sua atuação com o paciente. “Quando lidamos com um paciente lúcido, que consegue se comunicar e identificar o tipo de dor, conseguimos tratar da questão mais objetivamente. Já pacientes que não conseguem verbalizar, que apenas gemem, emitem grunhidos, franzir de testa ou apresentam taquicardia, identificamos a dor de outras formas, como escalas. Infelizmente há alguns familiares que ainda têm muita resistência ao uso da morfina, pois acreditam que isso poderá fazer com que o paciente tenha consequências piores. Então temos esse desafio de desmistificar a morfina”, explica João. Outro problema enfrentado pelos profissionais que é lembrado pelo professor é a disparidade na oferta de medicamentos em algumas regiões do Brasil. “Vivemos em um país continental. Então, enfrentamos dificuldades de encontrar analgésicos, em postos e unidades de saúde, principalmente em regiões mais afastadas. Isso é um grande problema para todos”.

Menos Dor e mais dignidade

João Batista Garcia, médico, professor especialista em Cuidados Paliativos e Dor pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e membro do Comitê de Dor da ANCP

Os profissionais relatam a importância da especialidade em Dor e Cuidados Paliativos para poder oferecer aos pacientes o alívio tão necessário para a manutenção da dignidade. Marcia Morete cita um caso em que sua paciente conseguiu um grau de bem-estar que a permitiu, inclusive, realizar uma viagem. “Sempre nos deparamos com diversas histórias, porém a mais recente seria de uma enfermeira que está em tratamento oncológico por câncer de ovário e útero avançado, metastático, que estava em quimioterapia até recentemente e que a mesma decidiu parar o tratamento da radioterapia e quimioterapia. Porém, questionava sobre o controle da Dor. A paciente tinha dores intensas (EVN 9/10), constantemente difusa, queimação, peso e pontadas na região abdominal e pélvica, que a impedia de sair de casa, dormir e nas atividades de vida diárias. Foi solicitada ao nosso grupo de Dor para controle álgico. A paciente estava bastante irritada com o quadro, ciente do seu estado, apenas querendo alívio da dor e do sofrimento. Ela foi medicada e iniciei terapias não farmacológicas (meditação e aromaterapia). Logo a seguir, foi feito Bloqueio Intervencionista para melhor alívio da dor. Em 1 semana a paciente estava melhor da dor, com diminuição de 60% da intensidade e, após bloqueio, chegou a 85%, conseguindo viajar para sua terra natal – que fazia parte dos planos de vida. Ela segue, ainda hoje, em acompanhamento e com a dor bem controlada, reconquistando sua autonomia e dignidade”, detalha Marcia.

João Batista possui um caso similar, onde a dificuldade foi encontrar o medicamento adequado em uma região afastada. “Houve um caso no interior do Pará de paciente em estado terminal decorrente de um câncer de pâncreas em estágio avançado. Não havia disponibilidade de morfina injetável. Todo dia tem uma nova história. Muitas não tão boas, mas acontecem. Há pacientes que precisam de muitos analgésicos combinados para o alívio das dores. Lido com pacientes que possuem diferentes tipos de dores, muitas dores”, relata João, que finaliza com uma análise. “De todos os sintomas de quem enfrenta uma doença, a dor é o mais forte. Mais que dispneia, ansiedade, depressão. É importante sabermos lidar com isso”, conclui o professor.

Educação contra a Dor

Como citado anteriormente, os profissionais especialistas em Dor e Cuidados Paliativos ainda não são muitos. Para que esse número possa atender com mais objetividade as necessidades daquelas pessoas que passam por Cuidados Paliativos, é necessário que haja maior ênfase na educação dos profissionais de saúde. É o que diz João Batista. “Há deficiência grande de formação em dor também. Mesmo os profissionais que atuam em Cuidados Paliativos encontram essa dificuldade de entender melhor sobre a Dor. É uma lacuna. Precisamos de mais cursos com foco especial sobre Dor para paliativistas, para lidarem de forma adequada com os variados tipos de Dor existentes”.

O especialista revela que até pouco mais de uma década, os profissionais interessados em se aprofundar em Dor precisavam fazer a busca pelo conhecimento sozinhos, sem a mesma base – ainda que pequena – que é oferecida atualmente. João dá uma dica àqueles que pretendam se especializar como ele: estudar e se formar em uma área de atuação. “Tudo começa na graduação. No Brasil, ainda são poucas as faculdades que possuem residência em Cuidados Paliativos, por exemplo. Aqui, na UFMA há cursos para especialização em Dor e Cuidados Paliativos. Você precisa, primeiro, ter a área de atuação – a minha é anestesiologia. Hoje, muitas universidades podem oferecer essa área de atuação, mas no começo, nós tivemos que fazer cursos em Cuidados Paliativos por contra própria. Depois disso, ainda tem a prova de certificação da Associação Médica Brasileira (AMB). Eu fiz parte da 1ª turma certificada, em 2012, quando já era especialista em Dor”, explica João.

Marcia Morete reforça que apenas com a especialização é possível aumentar em qualidade e quantidade a oferta de profissionais capacitados. “Os profissionais da área da saúde precisam se especializar na área de Dor e Cuidados Paliativos para que possam ter fundamentação e se instrumentalizar em relação aos cuidados integrais dos pacientes em situações frágeis. Eu acredito que mais profissionais de saúde se especializando na área e consequentemente, mais equipes se formando dentro das instituições, ajuda a contornar esses problemas que existem. Quando comecei a atuar nessa área havia poucos profissionais especialistas, hoje avançamos. Porém, acredito que somente a formação cada vez maior nessa área irá ajudar a superar as barreiras e objeções que lidamos diariamente”, diz Marcia, que atua em 3 hospitais da região metropolitana de São Paulo, onde ela e sua equipe atendem pacientes em Cuidados Paliativos praticamente todos os dias.

ANCP como fonte de informações e conhecimento

Marcia e João fazem parte do Comitê de Dor da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e, na opinião de ambos, os conteúdos já lançados pela instituição auxiliam muito para que novos especialistas possam conhecer melhor a área. “Para os graduandos e profissionais de saúde, sugiro cursos livres, atualizações e pós-graduação nessa área (Dor). Para leitura, há o site da ANCP com todos os conteúdos e artigos publicados. Ou ainda, especificamente de Dor, o site da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (SBED)”, indica Marcia Morete. Para João Batista Garcia, a cartilha “Tratando a dor – medicamentos opioides”, é outra grande opção. “Muitas informações podem ser encontradas lá. Ela foi escrita dentro da nossa realidade”.


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