O perfil da nova população mundial exige adoção imediata dos Cuidados Paliativos na saúde

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18 de fevereiro de 2019

O perfil da nova população mundial exige adoção imediata dos Cuidados Paliativos na saúde

Para Patrícia Coelho, os Cuidados Paliativos constituem uma necessidade na saúde pública pelo número de pessoas envolvidas e afetadas e que necessitam de suporte para lidar com estas situações. Também pela universalidade da morte, sendo a mesma associada a sofrimento, normalmente evitável pelo impacto nos doentes, no impacto econômico nas famílias e no Estado. “É preciso falar sobre a nova realidade pelo próprio perfil populacional mundial, com um número crescente de idosos (senescência), o aumento no índice de dependência deles e as mudanças no caráter econômico e social. A prevalência das doenças crônicas e o aumento da longevidade vão levar a um aumento na fragilidade e na vulnerabilidade daqueles que cuidamos”, explicou durante sua palestra sobre “Atenção domiciliar em Portugal”.


Em Portugal, cerca de 50% dos doentes referenciados morrem sem receber esses cuidados. O tempo médio de espera é de cerca de 40 dias. Pelo levantamento feito pela especialista sobre os locais de vida e de morte preferidos pelos portugueses, ela chegou à conclusão que 61,7% preferem receber os cuidados em casa na fase final de vida e 67.4% querem morrer em suas residências.

Aqueles que querem ser cuidados em casa estariam em sua maioria na faixa acima de 65 anos, moradores das áreas mais centrais. Já os que escolheram a casa como local para morrer seriam em sua maioria homens, moradores da região norte do país, com mais de 65 anos de idade. “Surge então uma crescente demanda por uma real assistência paliativa, aliada a questões econômicas e financeiras que exigem uma abordagem sustentável das políticas de saúde públicas”, esclarece Patrícia Coelho.

Outro estudo feito em Portugal em 2010 apontou que 51,2% das pessoas preferem morrer em casa, principalmente com idade acima de 65 anos. No entanto, 61,7% delas morreram no hospital contra 8% que escolheram seu local de preferência. Muitas vezes isso ocorre porque podem não ter condições socioeconômicas, podem não ter casa e, o mais importante, podem não ter cuidadores.

“O domicílio pode ser numa primeira fase uma opção para morrer, mas muda de acordo com a trajetória da doença em função de sintomas refratários. É fundamental então permitir um grau de flexibilidade na disponibilização, na articulação e no encaminhamento dos serviços de saúde, juntamente com os cuidados domiciliares de forma a atender as necessidades integrais dos doentes e familiares, respeitando sua autodeterminação, autonomia e dignidade”, afirmou a paliativista portuguesa.

Patrícia Coelho explica que a adoção dos Cuidados Paliativos Domiciliares significa o aumento na possibilidade de morrer em casa em 2,21 vezes em relação às outras tipologias de tratamento, respeitando as preferências dos doentes. “É 100 por 1 o efeito negativo dos sintomas na qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares. A integração dos Cuidados Paliativos nas estruturas de saúde e assistenciais da comunidade, especialmente nos serviços privados é fundamental e sinônimo de qualidade”. Para atender as diretrizes da European Association for Palliative Care (EAPC), é necessária uma equipe de cuidadores paliativos domiciliares por cada 100 mil habitantes 24 horas por dia, sete dias por semana.

Como integrante do Observatório Português de Cuidados Paliativos, Patrícia confirmou que Portugal efetivamente não tem Cuidados Paliativos. Existem 26 equipes e 22 tem gestão pública e apenas 11 das 25 regiões têm equipes que prestam cuidados domiciliares. A área metropolitana é a quem mais tem equipes. Os horários de funcionamento das equipes de CP são limitados, não garantindo a continuidade do atendimento e cerca de 20% dos doentes referenciados não são admitidos nos serviços, possivelmente por que morrem antes que isso aconteça.

Patrícia Coelho é professora auxiliar na Universidade Católica Portuguesa do Porto, doutora em enfermagem e pós-graduada em Cuidados Paliativos. E esteve entre os palestrantes internacionais do VII Congresso Internacional Cuidados Paliativos da ANCP, realizado entre os dias 21 e 24 de novembro de 2018.


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