Quando a percepção sobre a imagem gera conflitos e pode interferir no tratamento do câncer

Lives e Webnars ANCP
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14 de março de 2019

Quando a percepção sobre a imagem gera conflitos e pode interferir no tratamento do câncer

Perda de peso e mudanças na aparência são automaticamente associadas frente a diagnósticos de câncer. Mas nem sempre o fator predominante para a perda de peso são os efeitos colaterais do tratamento, outros atores estão envolvidos e eles precisam ser acompanhados pela equipe de Cuidados Paliativos para melhorar o bem-estar do paciente e do seu núcleo familiar.

Professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco, a enfermeira Karla Alexsandra de Albuquerque, falou sobre a importância da alimentação em nossa sociedade como uma forma de interação. Ela listou as diversas situações como reuniões de família e outras ocasiões em que a alimentação é a protagonista de ritos culturais, além dos aspectos de prazer que ela proporciona.

Neste cenário em que o alimento possui relativa importância em nossa sociedade, a falta de alimentação associada a um quadro de doença grave pode gerar conflitos e flagelos emocionais que pioram não apenas o bem-estar do paciente, como também de seus familiares e cuidadores.

De acordo com a paliativista, de 50% a 80% dos pacientes oncológicos são acometidos pela Síndrome Anorexia-Caquexia (SAC) ou simplesmente Caquexia. O mal gera alterações metabólicas de lipídios, proteínas e carboidratos que, por sua vez, levam os pacientes a processos fisiológicos caracterizados pela falta de apetite. Também tem sua ocorrência aumentada para mais de 80% nos estágios avançados ou terminais, em que é a principal causa de morte, de 20% a 60% dos casos. Tais informações relatadas estão contidas na tese de doutorado “Imagem Corporal, Autoestima e Distress em Doentes com Câncer Gastrointestinal com Síndrome Anorexia-Caquexia” apresentada pela especialista, em 2015, à Universidade de São Paulo.

Ela contou que, apesar de a perda de peso ser atribuída aos efeitos da Caquexia, a família do paciente associa o emagrecimento à falta de alimento. “A família acaba sendo muito impactada pelo visual, já o paciente tem outras preocupações e a magreza é o menor dos seus problemas”, observou.

A perda de peso foi analisada por Karla sob a ótica do paciente e dos seus familiares. Segundo ela, por um lado os pacientes se consideram mais gordos do que realmente estão. Normalmente não possuem uma percepção real do peso porque outras preocupações mais fortes o afligem como o medo da morte, a dor física acarretada pela doença e até mesmo a dor emocional de deixar a família desamparada caso faleça.

Já os familiares têm a percepção de que seus entes estão mais magros do que realmente estão. Acreditam que o doente se entregou à doença e por isso não se alimenta. Por outro lado, ficam ressentidos com o paciente porque acreditarem que seus esforços, como o de preparar alimentos, e de conseguir uma equipe eficiente, não são considerados ou valorizados.

A família faz parte da rede de apoio do paciente, se o suporte emocional não ocorre de forma mútua, se ela não está devidamente informada sobre o quadro, a má interpretação atrapalha essas relações e pode levar ao retraimento do paciente e ao isolamento da família. “Isso tudo gera conflitos interpessoais que prejudicam ainda mais o processo da doença e do tratamento”, comentou a pesquisadora.

Esses conflitos pontuados qualificam o quadro de Distress: experiência psicológica (cognitiva, comportamental e emocional), social e espiritual desagradável e multifatorial, que interfere na capacidade de lidar com o câncer. Segundo a especialista esses efeitos de instauram em um estado continuum ao ponto de levar o paciente à vulnerabilidade, tristeza e medos, depressão, ansiedade, pânico, isolamento social e crise espiritual.

A paliativista defendeu o acompanhamento dos multifatores que podem levar à síndrome como forma de melhor prescrever o tratamento. Propõe que a equipe médica deve ir além, precisa estar atenta aos efeitos emocionais da perda de peso dos pacientes, monitorar e até mesmo medir os estágios de Distress como forma de criar estratégias para minimizar o sofrimento e ampliar os resultados do tratamento proposto. Para ela o tratamento precoce desse sintoma pode diminuir o impacto negativo da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente e de sua família.

Karla apontou que o incentivo ao autocuidado e o aconselhamento terapêutico estão entre as intervenções que podem ser aplicadas pela equipe multidisciplinar para dirimir o Distress. Ela lembrou que o sofrimento emocional que acomete o paciente com câncer já é considerado o sexto sinal vital, por isso, deve ser monitorado e tratado em todas as fases da doença.

Orientar o núcleo familiar, que são um importante elo de cuidado da rede de apoio do paciente, quanto a esses sinais é uma forma de ter subsídios para identificar estímulos que levam ao Distress, bem como para minimizá-los.

Karla Alexsandra de Albuquerque é professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Comitê de Enfermagem e de Graduação de Enfermagem da ANCP. E esteve entre os palestrantes nacionais do VII Congresso Internacional Cuidados Paliativos da ANCP, realizado entre os dias 21 e 24 de novembro de 2018.


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