15 de novembro de 2024
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O ano de 2016 chega ao fim e, a partir de 2017, a ANCP terá nova diretoria, eleita durante Assembleia Geral Ordinária no VI Congresso Internacional de Cuidados Paliativos, que aconteceu em Bento Gonçalves. A atual presidente, Maria Goretti Sales Maciel, médica de Família e Comunidade, conclui seu mandato e faz um balanço de sua gestão e dos cuidados paliativos no país. Leia entrevista com a médica:
Dra. Maria Goretti, quais foram seus principais desafios na gestão 2014-2016 da ANCP?
Dra Maria Goretti – Considero que o principal desafio que nossa diretoria enfrentou foi a falta de recursos. Quando assumimos a direção, em janeiro de 2014, me senti totalmente de mãos atadas. A entidade estava em uma grave crise financeira. Não estou acusando a diretoria anterior, porque essa é uma situação que pode acontecer a qualquer um. Por conta de um congresso que deu prejuízo, a entidade mergulhou nessa dívida. E esse foi um fator muito limitante, porque eu havia assumido o compromisso de dar maior dinamismo à entidade, mas não havia recursos. Isso exigiu um sacrifício financeiro de toda a diretoria. Para ter uma ideia, fizemos vaquinha entre o corpo diretivo para arrecadar valores mais de uma de vez. E, também, mais de uma vez, viajamos representando a ANCP pagando passagem do próprio bolso.
Como vocês saíram dessa situação?
Dra Maria Goretti – Eu decidi que não podíamos abrir o jogo com os sócios ou geraria insegurança e isso, consequentemente, provocaria uma fuga de anuidades. Então, ligamos para os sócios reiterando a importância de pagar a anuidade e toda a diretoria fez uma gestão muito austera dos recursos que entravam em caixa. Investimos na parte de comunicação, com newsletter e site, para nos mantermos próximos aos sócios. Assim, em 2014 a dívida foi sanada. A sensação de vitória e o alívio foram incomparáveis.
O que você destaca das principais realizações desses anos?
Dra Maria Goretti – Sanada a dívida em 2014, começamos 2015 sem dinheiro em caixa, trabalhando muito no limite, mas ainda assim demos início à revista da ANCP. Foram lançados quatro exemplares muito ricos em conteúdo. Apesar de ter sido uma publicação patrocinada, o conteúdo foi 100% independente, com artigos científicos incríveis. Nesse mesmo ano, houve dois eventos muito importantes e que impulsionaram o VI Congresso, que aconteceu em 2016. O 1⁰ Congresso de Cuidados Paliativos do Mercosul, que aconteceu em Pelotas, com 400 pessoas e apoio integral da Academia, capitaneado pela Julieta Fripp, responsável pela Regional Sul. O outro foi o II Simpósio Norte-Nordeste de Cuidados Paliativos da ANCP, um evento da Regional Norte-Nordeste e que reuniu mais de 250 pessoas em Fortaleza. Tudo isso nos deixou muito animados para o Congresso Internacional, por isso já começamos a organizá-lo em 2015 mesmo. Fizemos uma parceria importante com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) e montamos um comitê para batalhar pelos cuidados paliativos na Atenção Primária. O primeiro resultado foram as 12 horas de programação sobre CP na Wonca 2016, o Congresso Internacional de Medicina da Família. Importante ainda destacar o papel ativo da Julieta Fripp, vice-presidente, batalhando por cuidados paliativos junto ao programa federal Melhor em Casa. E, por fim, em 2016, o VI Congresso Internacional foi um sucesso absoluto. Outra grande marca da nossa gestão foi a participação intensa em incontáveis eventos representando a ANCP, muitas vezes, como disse, pagando do nosso próprio bolso. Raras vezes recusamos convites para falar de cuidados paliativos e da Academia.
Dessas viagens, qual retrato você tirou dos cuidados paliativos no Brasil?
Dra Maria Goretti – Conheci muito da realidade do Brasil. Em particular, gosto de ir a cidades pequenas, afastadas dos grandes centros. Assim, posso dizer que há, sim, uma interiorização dos cuidados paliativos no país. Tem muita gente boa e compromissada fazendo seu trabalho, buscando conhecimento especializado. Há muitos bons serviços sendo gestados nos últimos anos. Claro que essa não é a realidade em todos os lugares. Ainda há gente que fala de cuidados paliativos de forma inadequada, usa o termo como diagnóstico, não como abordagem. Isso é perigoso e nos preocupa muito.
Como é se despedir da Academia?
Dra Maria Goretti – Hoje, 8 de dezembro (dia da entrevista), realizei minha última atividade em nome da ANCP, o IV Fórum de Pesquisa da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde, em Porto Alegre. Essa data marca meus 33 anos de formada e foi muito simbólico encerrar minha gestão em um evento com residentes de diversas profissões. Não pretendo voltar à direção da Academia, mas sempre serei uma sócia ativa.
Qual sua mensagem para a futura direção da Academia?
Dra Maria Goretti – O futuro dos cuidados paliativos é absolutamente promissor, temos muito a crescer e a Academia está muito organizada. Deixamos o caixa com cerca de R$ 300 mil e isso permitirá que a nova diretoria trabalhe com mais tranquilidade, podendo crescer. Espero que todos continuem nesse caminho para fazer crescer os cuidados paliativos e com a possibilidade de conseguir finalmente cumprir o objetivo número 1 da ANCP que é o reconhecimento como especialidade na Medicina. Está muito bem direcionado para que aconteça. Há ainda o desafio de implantar cuidados paliativos como disciplina na graduação de Medicina e construir uma política pública em CP, algo pelo qual temos batalhado.
Além disso, tenho que agradecer muito a confiança dos colegas de diretoria e aos sócios. Cada membro é muito importante e espero que cada um continue a dar o seu melhor pela Academia.
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